A prevalência ao longo da vida da depressão na população geral situa-se em torno de 15%. Ou seja, entre 100 pessoas da população 15 já apresentaram, ou apresentam, episódios depressivos durante suas vidas. É um transtorno que acomete mais frequentemente mulheres do que homens, numa proporção estimada em 2:1 (duas vezes mais mulheres do que homens). Sem um tratamento adequado, a depressão apresenta um curso crônico e recorrente. Estima-se que após o primeiro episódio o risco de recorrências seja de 50%; após o segundo episódio este risco se eleva para 70-80% e após três episódios depressivos, o risco de episódios seguintes é de 90%.
É também uma importante questão de saúde pública, pois está associada a altos índices de incapacitação, prejuízo no funcionamento global, elevados custos socioeconômicos, queda da qualidade de vida, maior risco de desenvolvimento de outras doenças de alta mortalidade (como por exemplo, diabetes, doenças cardiovasculares, câncer), piores índices de saúde geral e elevado risco de suicídio.
Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), a depressão é a primeira causa de incapacitação entre todas as doenças médicas. Ocupa a quarta posição entre todas as causas que contribuem para a carga global de doenças, de acordo com o “Global Burden of Diseases Project” da OMS, correspondendo a 4,4% dos anos de vida vividos com incapacitação. Para os indivíduos que estão na faixa etária compreendida entre 15 e 44 anos, a depressão é responsável por 8,6% dos anos vividos com incapacitação. O número de faltas ao trabalho ao longo de um período de 30 dias, entre pacientes deprimidos, chega a ser duas vezes maior, acarretando perdas salariais significativas (World Health Organization – WHO, 2001).
Os custos socioeconômicos com a depressão são elevados. Podem ser relacionados em custos diretos (p. ex.: custos com médicos, medicamentos), indiretos (p. ex.: custos decorrentes da incapacidade ocupacional, de morte prematura) e intangíveis (p. ex.: piora da qualidade de vida). Para se ter uma estimativa da gravidade, no Reino Unido, por exemplo, o custo total com a depressão supera os custos somados de diabetes e a hipertensão. Os custos diretos, especialmente com internações, são elevados. Segundo dados do Ministério da Saúde, calcula-se que para cada paciente internado no estado de São Paulo com diagnóstico de algum transtorno do humor, por exemplo, o custo seja de cerca de R$ 1.000,00 (dados de novembro/2007).
A depressão está também associada à maior utilização dos serviços de saúde: entre os pacientes que mais utilizam serviços de saúde, a prevalência de depressão chega a 40%. Custos com consultas, exames laboratoriais e hospitalizações, por exemplo, chegam a ser desde duas até quatro vezes maiores entre os portadores de depressão. Cerca de 50% dos pacientes que buscam serviços primários de saúde por queixas físicas apresentam depressão e, entre estes, de 40% a 60% não têm o diagnóstico firmado por médicos não psiquiatras. Entre os custos indiretos, a perda de produtividade e as faltas ao trabalho podem corresponder a 60% dos custos totais com a depressão.
O maior risco de pacientes de doenças crônicas apresentarem depressão é bem conhecido. Diabetes, doenças cardiovasculares, doenças hematológicas, doenças autoimunes e moléstias inflamatórias intestinais, por exemplo, co-ocorrem frequentemente com a depressão. A vulnerabilidade genética comum a estas doenças pode explicar a elevada frequências com que ocorrem concomitantemente, em um mesmo indivíduo – ou seja, como comorbidades. Este é um tema que tem recebido particular atenção em pesquisas na área dos transtornos do humor.
E a comorbidade com a depressão agrava os índices de saúde de qualquer doença médica. Um estudo conduzido pela OMS que recrutou mais de 200.000 participantes com idades acima de 18 anos, em diferentes países do mundo, indicou que a depressão, isoladamente, produziu a maior redução nos índices de saúde, quando comparada àquela causada pelas doenças crônicas como angina, artrite, asma e diabete, isoladamente. Mais ainda, a comorbidade com a depressão piorou os índices de saúde de qualquer uma destas condições isoladas, aumentando seus riscos.
Concluindo, a depressão é uma das doenças médicas mais frequentes, e acarreta importantes prejuízos pessoais, ocupacionais, econômicos e sociais, além de se relacionar à maior morbidade e mortalidade por outras doenças clínicas, se não tratada. Portanto, sua identificação precoce e a instituição de um tratamento adequado, que leve à remissão dos sintomas, é fundamental. A depressão é recorrente, a cada novo episódio a possibilidade de recorrências aumenta o que reforça a importância da eficácia dos tratamentos antidepressivos, e a adesão ao tratamento.
Referência:
http://www.abrata.org.br/new/artigo/impactoDepressao.aspx
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