A associação entre os transtornos do humor e os transtornos de ansiedade é descrita há muito tempo. No século XX, o psiquiatra alemão Emil Kraepelin já estudava o assunto.De acordo com dados mais recentes, o diagnóstico de algum transtorno de ansiedade é cerca de 20% mais frequente entre portadores de transtorno bipolar do que na população geral, e predispõe ao abuso de álcool e de outras substâncias, além de dificultar a resposta ao tratamento e também levar a um maior risco de suicídio.
Segundo alguns estudos clínicos, entre 10 e 46% dos portadores de transtorno bipolar apresentam também o diagnóstico de transtorno do pânico. Durante episódios com sintomas mistos (por exemplo, pacientes em episódios depressivos com alguns sintomas de euforia concomitantes), a frequencia de sintomas de transtorno do pânico pode chegar a 84%.
O diagnóstico de transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) é encontrado em até 35% dos portadores de transtorno bipolar, ao longo da vida. Dados da literatura descrevem que, quando ocorre esta associação, os portadores de transtorno bipolar apresentam um maior número de episódios depressivos, que tendem a ser crônicos e sem uma recuperação total, permanecendo o que chamamos de sintomas depressivos residuais. Ainda, como é necessário o uso de antidepressivos para o tratamento dos sintomas do TOC, o risco de indução de sintomas de mania ou hipomania (ciclagem) pode ser elevado.
A fobia social, ou transtorno de ansiedade social, ocorre em 10,6% a 22% dos portadores de transtorno bipolar. Em muitos casos, os sintomas da fobia social se manifestam antes dos sintomas do transtorno bipolar, e nas fases de hipomania ou de mania os sintomas de ansiedade social tendem ser menos intensos. A associação entre o transtorno bipolar e a fobia social pode aumentar o risco de abuso de álcool por parte dos portadores, o que dificulta a resposta aos tratamentos.
Além das dificuldades no diagnóstico da associação entre os transtornos de humor, em especial o transtorno bipolar, e os transtornos de ansiedade, existem também as implicações no planejamento terapêutico. O uso de antidepressivos está indicado para o tratamento de diversos transtornos de ansiedade; no entanto, seu uso no tratamento de portadores de transtorno bipolar tem validade questionada pelo risco de indução de ciclagem para mania ou hipomania, e de aceleração dos ciclos entre episódios depressivos e de hipomania/mania, com a possibilidade de ocorrer o que chamamos de “ciclagem rápida” (a ocorrência de quatro ou mais episódios de depressão ou de mania/hipomania no período de um ano). Nesses casos, o planejamento terapêutico tem que ser cuidadosamente avaliado, e a associação da psicoterapia – em especial da terapia cognitivo-comportamental – é importante para a abordagem dos sintomas dos transtornos de ansiedade, e para a conscientização da monitorização do humor.
Referências:
MACEDO-SOARES, M. B. ; ISSLER, Cilly Kluger ; MORENO, Doris Hupfeld . Transtorno bipolar do humor e comorbidades. In: Ricardo Alberto Moreno; Doris Hupfeld Moreno. (Org.). Da Psicose Maniaco Depressiva ao Espectro Bipolar. Sao Paulo: Segmento Farma Editores Ltda., 2005, p. 186-230.
MACEDO-SOARES, M. B. ; MORENO, Doris Hupfeld . Comorbidades. In: Ricardo Alberto Moreno; Doris Hupfeld Moreno. (Org.). Da Psicose Maníaco-Depressiva ao Transtorno Bipolar. São Paulo: Segmento Farma, 2008, p. 191-230.
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