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A QUALIDADE DE VIDA DOS PORTADORES DE TRANSTORNO BIPOLAR

O conceito de qualidade de vida tem sido estudado há aproximadamente 50 anos. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), é um conceito subjetivo e multidimensional que implica a sensação geral de bem-estar, a percepção do indivíduo de sua posição na vida no contexto da cultura e dos valores sociais em que está inserido, e sua percepção em relação às suas metas, expectativas, padrões e preocupações. Ou seja, não se baseia apenas na avaliação dos sintomas, mas sim numa compreensão mais ampla do indivíduo, e avalia o exato impacto da doença em diferentes esferas: saúde física, psicológica, nível de independência, relações sociais, meio-ambiente e espiritualidade/religião/crenças pessoais. Ao longo do tempo, com os avanços no tratamento das doenças médicas em geral incluindo os transtornos mentais, deixamos de pensar em quantidade de vida e passamos a pensar em qualidade de vida. Quanto mais vivemos, aprendemos e envelhecemos, mais precisamos estar em equilíbrio com o que é possível ser feito, mais precisamos ser funcionais nas nossas atividades de modo a produzir resultados satisfatórios para nós mesmos e para a sociedade.

O Transtorno Bipolar é uma doença crônica, recorrente, e é terceira causa de incapacitação dentre outras doenças mentais (OMS). Na maioria das vezes, promove um impacto negativo no funcionamento psicossocial, familiar, profissional e na saúde física dos portadores, acarretando prejuízos na qualidade de vida, tais como: problemas nos relacionamentos emocionais e interpessoais, separações, problemas de saúde (comorbidade com doenças clínicas e outros transtornos mentais como abuso de álcool e drogas), problemas no trabalho (queda de produtividade, faltas, perdas salariais, perda de emprego), acidentes com veículos automotores, disfunções cognitivas etc. Segundo a OMS, uma mulher que começa a apresentar sintomas do transtorno bipolar aos 25 anos pode perder até 9 anos de expectativa de vida devido a comorbidade com outras doenças médicas (principalmente doenças cardiovasculares), 14 anos de produtividade, e 12 anos de um bom estado de saúde geral.

Na literatura científica, há muitas descrições de que portadores de transtorno bipolar – especialmente se não adequadamente tratados – apresentam piores índices de funcionamento global e de qualidade de vida em comparação a indivíduos da população geral (que não apresentam diagnóstico de algum transtorno psiquiátrico), a portadores de outros transtornos mentais (como depressão unipolar e ansiedade), e de doenças médicas (como asma, gastrite, obesidade).

Em especial, a presença de sintomas depressivos no transtorno bipolar, tanto nas fases depressivas como o que chamamos de “sintomas depressivos residuais” (aqueles que permanecem em menor número e mesmo em menor intensidade, mas que interferem com o dia a dia do indivíduo), está associada a um comprometimento maior nas avaliações das diferentes dimensões da qualidade de vida.

O tratamento adequado das fases depressivas, de mania e hipomania, com a remissão dos sintomas, é o objetivo primeiro do tratamento médico do transtorno bipolar. No entanto, a recuperação da qualidade de vida vai além da remissão sintomática; o tratamento deve abranger outros parâmetros, como: o restabelecimento de relações interpessoais e familiares; a recuperação do funcionamento profissional; o tratamento e a manutenção de um bom estado de saúde física; o estímulo à prática de atividades físicas, à manutenção de uma rotina e hábitos saudáveis e ao envolvimento com atividades de lazer; o envolvimento em atividades de apoio psicossocial e um maior conhecimento da doença, seus sintomas, seu tratamento.

Concluindo, os portadores de transtorno bipolar devem estar sempre atentos às suas condições e avaliar sua qualidade de vida, nas diferentes esferas. Abaixo estão algumas orientações práticas para que os portadores mantenham o seu bem-estar físico, psicológico, interpessoal, ambiental, espiritual e de independência.

 

  1. OSCILAÇÕES DO HUMOR – observar, reconhecer, identificar e monitorar cada flutuação de humor
  2. QUADRO DE HUMOR – fazer diariamente um quadro que caracterize seu humor durante todo o dia, para seu controle e de seu médico.
  3. ADESÃO AO TRATAMENTO – seguir as orientações médicas, comparecer regularmente às consultas, não parar de tomar o medicamento, não fazer mudanças por conta própria (sem autorização médica) e não esquecer das tomadas diárias.
  4. PSICOTERAPIA – fazer tratamento psicoterápico regularmente, individual, de casal, familiar, de acordo com o caso
  5. CONHECIMENTO DA DOENÇA, e GRUPOS DE APOIO – conhecer o que é o transtorno bipolar, informar-se, e participar de atividades como Grupos de Apoio Mútuo, Palestras Psicoeducacionais (ABRATA).
  6. APOIO SOCIAL e FAMILIAR – comunicar-se espontaneamente com familiares e amigos e solicitar e aceitar ajuda.
  7. ESTRESSES – diminuir fatores de risco, mudar hábitos para evitar desencadeamento de novos episódios e criar estratégias de autoproteção.
  8. ROTINA – criar agenda de atividades diurnas e noturnas, procurar manter horários regulares para atividades de higiene, alimentação, trabalho, descanso
  9. SONO – deitar e acordar sempre na mesma hora, evitar mudanças de fuso horário e substâncias que interfiram no seu descanso.
  10. ALIMENTAÇÃO – fazer dieta saudável evitando alimentos gordurosos, com sal e carboidratos.
  11. ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS – evitar de toda forma, pois qualquer droga interfere na manutenção do seu bem-estar.
  12. ATIVIDADE FÍSICA – fazer exercícios de preferência pela manhã e cerca de 4 vezes por semana.
  13. AUTOESTIMA – valorizar-se, acreditar em si mesmo, conscientizar-se da doença e administra-la da melhor maneira possível.

Texto elaborado por Elisabeth Sene-Costa, Marcia Britto de Macedo Soares e Yara Garzuzi, membros do Conselho Científico, para material educacional da ABRATA – Associação Brasileira de Amigos, Familiares e Portadores de Transtornos Afetivos (www.abrata.org.br)

 

REFERENCIAS:

  1. The WHOQOL Group. The development of the World Health Organization quality of life assessment instrument (the WHOQOL). In: Orley J, Kuyken W editors.Quality of life assessment: international perspectives. Heidelberg: Springer Verlag; 1994. p. 41-60.
  2. FLECK, MPA et al . Aplicação da versão em português do instrumento de avaliação de qualidade de vida da Organização Mundial da Saúde (WHOQOL-100). Saúde Pública 1999; 33 (2).
  3. BULLINGER, D. Locomotor disability in very elderly people, Bristish Medical Journal. 1993; 301: 216-220.
  4. ISHAK WW et al. Health-related quality of life in bipolar disorder. Bipolar Disorders 2012; 14: 6-18.
  5. MICHALAK EE et al. Bipolar disorder and quality of life: a patient-centered perspective. Qual Life Res 2006; 15: 25-37.
  6. JUDD et al. The long-term natural history of the weekliy symptomatic status of bipolar I disorder. Arch Gen Psychiatry 2002; 59(6): 530-7.
  7. JUDD et al. A prospective investigation of the natural history of the long-term weekly symptomatic status of bipolar II disorder. Arch Gen Psychiatry 2003; 60(3): 261-9

 


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