
O conceito de realidade virtual considera que sensações experimentadas no mundo real podem ser substituídas por sensações virtuais estimuladas artificialmente por métodos tecnológicos. Seu emprego na psiquiatria é relativamente recente, e se deu a partir dos anos 2000, aproximadamente. Ao longo das últimas duas décadas, vários estudos indicaram a eficácia do emprego da realidade virtual imersiva no tratamento de transtornos ansiosos como transtorno de ansiedade social, transtornos fóbicos específicos (fobia de altura, claustrofobia, fobia de voar, fobia de aranhas e outros animais peçonhentos, por exemplo) e transtorno de estresse pós-traumático. O tratamento desses transtornos envolve abordagens medicamentosas e não medicamentosas, sobretudo técnicas comportamentais como exposição e dessensibilização sistemática. Com o emprego da realidade virtual, pacientes e terapeutas podem controlar o nível de exposição e aumentar gradualmente a intensidade, facilitando assim a habituação. No tratamento do transtorno de ansiedade social, que se caracteriza pelo medo de situações sociais e que envolvam avaliação e julgamento, uma das técnicas empregadas para pacientes que temem a exposição ao falar em público, é modular virtualmente o número de integrantes da plateia e suas expressões de aprovação/neutras/desaprovação gradativamente. Para os transtornos fóbicos específicos, nos quais o medo e a reação desproporcionais a determinado estímulo gera evitação, o ambiente virtual permite que pacientes com medo de altura, de lugares fechados, tenham a intensidade controlada passo a passo, com o aumento da altura do topo do prédio, ou estreitamento do cômodo. Simuladores de voo tem sido uteis no acompanhamento de pessoas com medo de voar, com bons resultados. No transtorno de estresse pós-traumático, a simulação virtual de situações que desencadearam o trauma também tem obtido bons resultados. O ideal é que o emprego da realidade virtual no tratamento desses transtornos seja sempre indicado e acompanhado por um profissional de saúde mental que poderá avaliar, junto ao paciente, a intensidade da exposição e os resultados.
Fontes: Guerra JGG, Tartari RR, Pan PM. Uso da realidade virtual em psiquiatria. In: Associação Brasileira de Psiquiatria; Nardi AE, Silva AG, Quevedo JL, organizadores. PROPSIQ Programa de Atualização em Psiquiatria: Ciclo 10. Porto Alegre: Artmed Panamericana; 2020. P 9-41.
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