Lembrando um pouco da psiquiatria clássica, o psiquiatra alemão Kurt Schneider descreveu as “personalidades psicopáticas” como “aquelas que sofrem, ou fazem sofrer a sociedade”. O sofrimento com os sentimentos crônicos de vazio, com o abalo na auto-estima e comprometimento da auto-imagem, com os relacionamentos pessoais turbulentos, instáveis e intempestivos, marcados pela necessidade de “testar” os vínculos de afeto pelo temor de abandono, e com os episódios de auto-agressão, tentativas de suicídio, acomete as pessoas com Transtorno de Personalidade Borderline (TPB).
Segundo os critérios atuais do Manual Diagnóstico e Estatístico de Doenças Mentais, em sua 5ª edição, para o diagnóstico do TPB devem ser observados, “além do padrão difuso de instabilidade das relações interpessoais, da autoimagem de dos afetos, e de impulsividade acentuada que surge no início da vida adulta e está presente em vários contextos, cinco ou mais dos seguintes itens:
– esforços desesperados para evitar abandono real ou imaginado;
– padrão de relacionamentos interpessoais instáveis e intensos caracterizados pela alternância entre extremos e idealização e desvalorização;
– perturbação da identidade, com instabilidade acentuada e persistente da autoimagem ou da percepção de si mesmo; –
– impulsividade em pelo menos duas áreas potencialmente autodestrutivas, por exemplo: gastos, sexo, abuso de substâncias, direção irresponsável, compulsão alimentar;
– recorrência de comportamento, gestos ou ameaças suicidas ou de comportamento automutilante
– instabilidade afetiva devida a uma acentuada reatividade de humor, por exemplo: disforia episódica, irritabilidade ou ansiedade intensa com duração geralmente de poucas horas e apenas raramente de mais de alguns dias;
– sentimentos crônicos de vazio;
– raiva intensa e inapropriada, ou dificuldade em controla-la, por exemplo: mostras frequentes de irritação, raiva constante, brigas físicas recorrentes;
– ideação paranoide transitória associada a estresse, ou sintomas dissociativos intensos”;
O principal diagnóstico diferencial do TPB é com o transtorno bipolar, em especial em suas formas mais brandas integrantes do chamado “espectro bipolar”. Algumas características clínicas ajudam a elucidar a dúvida diagnóstica: os transtornos do espectro bipolar se caracterizam pelo curso episódico, com alterações nítidas de humor (mania, hipomania, depressão, “estados mistos”) alternando com períodos definidos de eutimia, e com frequência observamos que há antecedentes familiares de bipolaridade. Também os Transtornos de Personalidade Histriônica e Narcisista são diagnósticos diferenciais, pois tem em comum a procura de atenção e os comportamentos de manipulação, porém não apresentam os sentimentos crônicos de vazio característicos do TPB. O diagnóstico diferencial pode ser difícil, e somente pode ser feito por profissionais de saúde mental.
O o e mental.
de ser feito por profissionais de sa episro bipolar, qeu saegrantes do chamado tratamento do TPB é multidisciplinar e a equipe inclui médicos psiquiatras, psicólogos e acompanhantes terapêuticos. São recomendados a psicoterapia individual e familiar, e o tratamento medicamentoso que pode incluir antidepressivos (em especial da classe dos inibidores seletivos de receptação de serotonina), antipsicóticos atípicos, e estabilizadores de humor.
Fontes:
Schneider, K. Klinische Psychopathologie, 1948.
American Psychiatric Association. Referência Rápida aos Critérios Diagnósticos do DSM 5. 5ª ed. Artmed, 2014.
Gunderson et al. Borderline personality disorder. Nat Ver Dis Primers 4: 18029,2018. 1oi:10.1038/nrdp.2018,29.
Tags: borderline, marcia macedo soares, psiquiatra